sexta-feira, 16 de julho de 2010

Humildade pedagógica na utilização de multimídia

Que as mídias sociais são ferramentas importantes já sabemos. Resta-nos fazer outras reflexões, como esta que transcrevemos, do filósofo Mario Sergio Cortella, sempre antenado, sempre propondo que tenhamos olhos abertos.

Se você ainda não o conhece, não sabe o que está perdendo. Ele tem vários livros publicados, e vídeos com palestras suas podem ser encontrados no YouTube.

Em tempo: o texto foi publicado pelo site do Instituto Alana, que promove um instigante debate sobre as causas e consequências do consumismo infanto-juvenil.

Abraços, Laura Martins


16/07/2010 
Por Luiz Sugimoto, da Unicamp

Ética e multimídia. Foi este o tema escolhido pelo filósofo Mario Sergio Cortella para a conferência de abertura do 5º Seminário Nacional “O Professor e a Leitura do Jornal”, na Unicamp. “Nenhum professor, seja da escola pública ou da privada, está preparado para trabalhar com as diferentes mídias atuais. Quando o Brasil foi penta na Copa de 2002, não existia a palavra ‘blog’; hoje é criado um blog por minuto. São plataformas novas, que trazem novas formas de pensar, a fim de não confundir informação com conhecimento. Precisamos ter a humildade pedagógica de quem começa a aprender sobre a questão. A velocidade é alta e estamos apenas no início da estrada”.

Na opinião de Cortella, docente da PUC-SP, os processos escolares não devem se adaptar às inovações e sim integrá-las ao seu cotidiano. “Adaptar é postura passiva, enquanto que integrar pressupõe metas de convergência. As tecnologias mais recentes podem fazer parte do trabalho pedagógico escolar desde que utilizadas como ferramentas a serviço de objetivos educacionais que estejam antes claros para a comunidade e que a ela sirvam. Tecnologia em si não é sinal de mentalidade moderna; o que moderniza é a atitude e a concepção pedagógica e social que se usa”.

O filósofo, que participa do seminário na Unicamp desde as primeiras edições, insiste na visão de que a tecnologia não é uma mera ferramenta. “Ela é instrumento político de ação, à medida que interfere na vida da sociedade. Não há neutralidade no uso de qualquer tecnologia, seja de natureza ideológica, científica ou preconceituosa. Isso significa que é preciso proteger a utilização da tecnologia com princípios éticos – e o mais importante deles talvez seja a preservação de uma convivência coletiva decente, aquela que não diminui a vida alheia”.

Mario Sergio Cortella defende o amparo da tecnologia por valores éticos para evitar o que chama de biocídio – o assassinato da vida nas suas múltiplas formas. “A tecnologia, por ser também ferramental (embora não exclusivamente), pode ajudar a proteger a vida no seu conjunto, ou então contribuir para a sua destruição, com o falecimento do futuro, a desertificação da esperança e a anulação de uma história. E o professor, para amparar a tecnologia, deve ter três qualidades: generosidade mental, repartindo o que sabe; coerência ética, praticando o que ensina; e humildade intelectual, perguntando o que ignora. Assim, a tendência será de que o biocídio fique longe do nosso horizonte”.




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